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Estamos vivendo a Era Pós-Startups

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Você provavelmente deve estar me achando louca em falar na Era Pós-Startups com os primeiros unicórnios brasileiros sendo formados, 99, Nubank, iFood, Gympass e Stone são algumas das startups brasileiras que foram avaliadas recentemente em U$$ 1 bilhão ou mais.

O termo Era Pós-Startups, porém, não se refere a extinção das startups, mas na mudança da dinâmica de como o mundo interage e se relaciona com elas e de como isso afeta o surgimento de novas startups daqui em diante, dado que estamos vivendo uma era em que ter uma startup não é mais algo totalmente disruptivo e sim, algo que torna-se cada vez mais comum.

A Era Pós-Startups começa a tomar forma no nosso dia a dia, assim como a Era Pós-Digital já está presente no nosso cotidiano há pelo menos uma década. A Era Pós-Digital, é um conceito inicialmente proposto pelo Walter Longo e que se refere a fase em que as pessoas já estão tão acostumadas com a internet que elas só notam a presença da conectividade quando esta está em falta (se quiser tangibilizar esse conceito, experimente ficar em um dia de trabalho sem seu smartphone por 24 horas).

E assim, a era “pós” alguma coisa é algo que sempre acontece com qualquer tecnologia. Por exemplo, se imaginar que vivemos a era pós-eletricidade, pois só nos lembramos que utilizamos energia elétrica quando ficamos sem energia, fica mais fácil de entender a Era Pós-Digital e a Era Pós-Startups:

É aquele momento em que aquilo deixa de ser uma novidade “wow, que legal, olha essa startup que pode chamar um taxi por um aplicativo!”, para ser algo tão intrínseco do nosso cotidiano que se torna um absurdo viver sem “como assim ainda não tem uma startup que faz isso?”.

Esse conceito da Era Pós-Startups, porém, não é novo e nem fui eu quem inventei. Ele já vem sendo difundido nos Estados Unidos há pelo menos dois anos e, aqui no Brasil, começou a ser comentado timidamente a pouco menos de um ano em publicações no medium e no voicers.

Ok, mas se estamos vivendo a Era Pós-Startups, o que isso muda daqui em diante?

As Características da Era Pós-Startups

  • Não haverá um novo Facebook, um novo Google ou uma nova Amazon (nem uma nova Microsoft e nem uma nova Apple)

Sabe a história de que o Facebook fez com que o Orkut desaparecesse e que o Google foi o 16º buscador criado? Essas histórias ficaram no passado. Essas empresas se tornaram tão grandes que dificilmente alguma outra empresa criada do zero assumirá uma dessas posições no mercado.

  • A startups serão cada vez mais absorvidas por grandes empresas

Até mesmo o Whatsapp e o Instagram foram comprados pelo Facebook. A Netshoes foi comprada pela Magazine Luiza depois de uma disputa acirrada com a Centauro. A tendência, a partir de agora, é que cada vez mais grandes empresas adquiram startups para expandir a atuação de seus negócios e ganhar velocidade na corrida pela inovação.

Uma outra tendência que está se firmando são os chamado CVCs ou Corporate Venture Capitals, que nada mais são do que fundos de investimentos de risco de grandes empresas que investem em startups.

  • Startups de alto impacto e com inovação disruptiva terão espaço apenas em setores com baixo desenvolvimento tecnológico ou que sofrerão mudanças drásticas nos próximos anos

A barreira de entrada para setores com alto desenvolvimento tecnológico está se tornando cada vez maior. Para desenvolver um novo carro elétrico, por exemplo, a briga está em alguns milhões de dólares e muitos anos de desenvolvimento, em relação a empresas como, por exemplo, a Tesla.

Portanto, áreas como a construção civil, que é um dos segmentos com menor aplicação de tecnologia e seguros, que deverá mudar drasticamente com a implementação de carros autônomo, estão começando a atrair um grande número de interessados que vem desenvolvendo cada vez mais Construtechs e Insurtechs.

  • Os novos negócios devem funcionar tanto online como offline

Algumas pessoas dizem que se os novos negócios não funcionarem com um smartphone, estarão fadados ao fracasso. Eu digo que se os novos negócios não funcionarem em um mundo híbrido online e offline, eles estarão fadados ao fracasso.

O mundo passou por uma fase grande de disrupção em que a internet inundou o dia-a-dia das pessoas, porém as pessoas estão sufocadas por informação e estão percebendo o quão nocivo é ficar conectado 24 horas por dia.

Eu acredito que o mundo está entrando em equilíbrio e, portanto, um produto deve funcionar tanto com um smartphone como se conectar nas atividades cotidianas de uma pessoa.

Cada vez mais negócios que oferecem produtos que o consumidor utiliza no mundo físico, mas são comprados pela internet, tem tido destaque, até um termo para esse tipo de produto/serviço foi desenvolvido – chama O2O e significa online to offline – e se refere a produtos oferecidos por empresas como Uber, Airbnb e Nubank, que são adquiridos por um smartphone e utilizados no dia-a-dia de forma física.

  • Os novos negócios devem ter alma

Deixou de ser suficiente a criação de uma marca com propósito, é preciso que essa marca tenha uma alma. A Magazine Luiza talvez seja a marca que melhor torna palpável esse conceito com a personagem virtual Lu que foi criada há pelo menos 5 anos e está ficando cada vez mais popular, porém, existem outras marcas que entregam esse conceito muito bem.

Os consumidores ficam fanáticos quando uma marca responde e interage nas redes sociais. Para entender o poder da alma de uma marca, basta acompanhar as postagens da Netflix interagindo com os fãs ou as ações da NuBank que fazem ações personalizadas com os clientes, como quando ela mandou sal grosso para um cliente que foi assaltado duas vezes ou quando mandou um presente para a cachorrinha que comeu o cartão do dono.

As marcas que desejam se destacar, a partir de agora, já devem nascer com uma personalidade intrínseca.

  • Aceleradoras e incubadoras individuais irão entrar em extinção e os Ambientes e Hubs de inovação se tornarão cada vez mais fortes

Dada essa mudança de cenário, algumas mudanças já estão acontecendo. Algumas aceleradoras como a ACE, uma das primeiras do país, já estão se antecipando essas mudanças. Recentemente a ACE acabou com a aceleração e se dividiu entre fundo de investimento e consultoria para grandes corporações.

Outros sistemas de inovação individuais estão se conectando a Ambientes e Hubs de inovação já consolidados. Na ACATE Primavera, em Florianópolis, por exemplo, é possível encontrar a aceleradora Darwin Startups e um coworking da Impact Hub.

A Abstartups, Associação Brasileira de Startups, está localizada dentro do Cubo em São Paulo, que no novo prédio, conecta além de startups, grandes empresas e investidores em um só lugar.

Já o Nexus Hub desenvolvido dentro do Parque Tecnológico São José dos Campos conta com diversos programas que recebe mais de 70 startups em diferentes níveis de maturidade e está inserido em um ambiente que além de atrair cada vez mais investidores, abriga tanto grandes empresas, como universidades e outras instituições de ensino e pesquisa, laboratórios multiusuários e a própria secretária de Desenvolvimento Econômico do Município, na cidade que foi considerada, no início de 2019, a mais inovadora do país.

  • Os termos “startupês” vieram para ficar

Acredito que uma das principais características da Era Pós-Startup são os termos específicos dos ambientes de empreendedorismo. Cada vez mais se torna mais comum encontra-los no nosso dia a dia, seja em uma reunião informal, na leitura de um livro ou em uma palestra.

Aprender essa linguagem será de extrema importância para qualquer pessoa em um futuro muito breve. Assim como o inglês deixou de ser um diferencial no passado para se tornar essencial e também um pré-requisito na maioria das vagas de emprego, o vocabulário startupês deverá se tornar, em muito pouco tempo, uma língua que qualquer pessoa deverá aprender.

 

Ana Leticia Rico, Community Manager at Nexus – Innovation Hub