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Uma boa notícia para as startups: 2020 inaugura a Era do Capital Produtivo

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A montanha russa de fake news e a instabilidade política somada à crise econômica ao longo de 2019 podem deixar uma impressão errada ao investidor menos atento. Quem ficar ancorado apenas nos indicadores econômicos tradicionais tende a deixar de enxergar um caminho diferente e cheio de oportunidades que já começaram a surgir com maior força este ano e continuarão ganhando tração em 2020 e na década que se inicia.

Essa é uma boa notícia para a indústria de startups e uma má notícia para quem estava acostumado a se refestelar no sofá para acompanhar os rendimentos dos títulos do Tesouro Direto. A moleza acabou e dificilmente voltará a ser como antes. Se antes era possível dobrar o patrimônio em 5 anos aplicando apenas em renda fixa, agora seria necessário o triplo de tempo para obter o mesmo retorno.

Com a taxa Selic em 4.5%, o nível mais baixo da história, e inflação absolutamente sob controle, mesmo com a depreciação do Real neste final de ano, anotem a grande mensagem que fica de 2019: a moleza financeira acabou!

Ao investidor, mesmo os mais avessos à risco, há agora dois caminhos a seguir: continuar se arriscando no mercado de capitais, que é extremamente volátil, ou apostar em pesquisa, desenvolvimento, inovação. Não é uma estratégia conservadora típica, é verdade, mas traz o bônus de gerar emprego e movimentar a economia de forma mais consistente.

Estamos enfim entrando na Era do Capital Produtivo!

Na medida em que a economia começa a dar sinais de recuperação da recessão aguda de 2015 e 2016, as empresas começam a “lamber as feridas” da crise e tratam de voltar a investir em inovação a fim de tornar processos mais eficientes. Em paralelo, os investidores intensificam a procura por boas oportunidades de negócio no país na medida em que a economia mostra uma luz no fim do túnel.

É a tempestade perfeita para as startups.

Mesmo com todas as incertezas dos últimos anos, o ecossistema de startups está amadurecendo a olhos vistos no Brasil e o investidor que deseja alcançar melhores rendimentos deveria, fica o conselho, prestar mais atenção a essa tendência.

Segundo a Associação de Investimento de Capital Privado na América Latina (LAVCA, em inglês), os aportes de fundos de venture capital em startups latino-americanas chegaram a US$ 2,6 bilhões no primeiro semestre desse ano divididos em 160 transações. Esse valor já é mais de 25% superior ao total investido em 2018 inteiro, quando ficou em US$ 2 bilhões. Ao observar os dados referentes a 2017 (US$ 1,1 bilhão) e 2016 (US$ 500 milhões), dá para perceber a magnitude desse movimento.

O Brasil, claro, é o principal mercado da região. Até outubro desse ano, de acordo com o relatório da consultoria Transactional Track Record (TTR), os investimentos somaram R$ 8,7 bilhões. Ao todo, foram realizadas 211 rodadas, um número 15% superior ao de 2018. A maior parte dos recursos ficou em São Paulo e se destinou a startups com modelos de negócio voltados para tecnologia e Internet.

E qual o maior atrativo das startups?

As startups desenvolvem tecnologias para resolver problemas concretos dos consumidores finais ou como prestadoras de serviços para grandes corporações. Essa oferta mais abundante de capital torna a vida dos empreendedores mais fácil do que há quatro anos, época em que o crédito era escasso e se não houvesse um plano de negócio muito claro e uma demanda já contratada, a startup patinava.

As coisas estão agora diferentes e a maior prova disso é o fato de que já temos 9 empresas no chamado Global Unicorn Club, o grupo das startups com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.

Segundo a consultoria CB Insights, esse clube conta hoje com 418 empresas, que somam um valuation de US$ 1,3 trilhão. Quase metade dos membros são companhias norte-americanas e outro ¼ de chinesas. Os 25% restantes são distribuídos pelo resto do mundo. Nosso número parece modesto, mas quando se leva em conta que o terceiro e o quarto lugares (Reino Unido e Índia) possuem cerca de 20 empresas cada, nota-se que o número do Brasil nem é tão modesto assim.

Nossa lista de unicórnios é composta por fintechs como o Nubank, EBanx e Stone (que lançou seus papéis na Bolsa de Nova York com bastante sucesso e tem hoje valor de mercado superior a US$ 10 bi). Temos ainda três no setor de transporte e logística – a 99, a Loggi e a Movile, além da Quinto Andar, ligada ao setor imobiliário, a Arco Educação e a Gympass. E a mais nova entrante, a Wildlife, de games.

Vale citar também outras duas fintechs: a Brex, empresa de cartões de créditos corporativos criada por dois brasileiros de 23 anos e que opera somente nos Estados Unidos e, portanto, não engrossa a lista nacional; e a PagSeguro.

Corporate Venture acelera investimentos

A japonesa Softbank anunciou em março a criação de um fundo que pretende investir US$ 5 bilhões na América Latina e o Brasil é um dos alvos preferenciais por ter startups mais maduras.

O principal executivo do Softbank no país, André Maciel, também confirmou que há mais US$ 300 milhões que serão investidos em fundos de venture capital da região para as rodadas chamadas de seed (o chamado capital-semente, aplicado na fundação da startup) e nas séries A e B de aportes, etapas em que o fundo criado pelo japonês Masayoshi Son, geralmente, fica de fora.

Mas há outros setores no radar dos investidores, como o agribusiness. Maciel manifestou estar em busca de um target no setor de healthcare que, segundo ele, recebe poucos recursos, mas é extremamente promissor.

A entrada do Softbank, aliás, confirma o avanço do setor de Corporate Capital no Brasil. Outros grandes players estão embarcando na modalidade de investir em startups que tenham sinergia com seus negócios.

O Itaú anunciou recentemente a compra da startup mineira Zup, fundada em Uberlândia (MG) em 2011, oferecendo soluções tecnológicas que incluem ferramentas de integração de novos desenvolvimentos digitais aos sistemas corporativos legados das empresas.

A alemã Basf anunciou que vai alocar US$ 4 bilhões para investir em startups voltadas aos setores agrícola e de alimentos. A Magazine Luiza fez no início de novembro um pitch day para selecionar startups que contribuam para acelerar seus serviços digitais. Outras empresas que têm se mostrado atentas são Danone, Nestlé e Amazon.

Com um cenário desses, o jogo é outro. Em vez de ter startups com pires na mão, são os investidores que vão suar para conseguir aplicar dinheiro nos cases mais promissores. Isso porque, de maneira geral, o empreendedor prefere receber aporte de uma empresa do que do mercado financeiro.

Existe a percepção de que a sinergia entre empreendedores é mais produtiva e vai realmente contribuir para o crescimento do negócio e não apenas exigir os resultados no final de cada trimestre. É alguém que chega para somar.

E não são apenas as fintechs as grandes estrelas da economia da inovação. Pense que o mais importante aí é o sufixo “tech”, porque a tecnologia irá, cada vez mais, permear todos os setores. Foodtechs, civictechs, lawtechs, govtechs, edutechs. Há muitos outros segmentos sendo impactados pela tecnologia. Ou alguém aí imaginava no início da década passada que negócios como Netflix e YouTube iriam abalar as grandes empresas de mídia?

O recado está dado e é bastante claro: num ambiente em que o lucro financeiro é limitado, as startups são as melhores apostas para quem quer adubar seu rico dinheirinho. Em 2017, o país tinha 5.147 startups, segundo a Associação Brasileira do setor. Em setembro, já contabilizava 12.715, das quais 2.800 fundadas em 2019.

Então, prezado investidor, prezada investidora, ficar de fora desse novo ciclo não é mais uma opção. Se não quer perder a festa do capital produtivo, sugiro começar a repensar ontem suas estratégias de investimento.

 

 

Pierre Schurmann, Founder & CEO at Keiretsu